Dê um gás em sua propriedade: biogás pode substituir outras fontes de energia
Imagine um cenário onde os dejetos de animais não são mais um problema, mas sim a solução para uma revolução energética nas propriedades rurais. Isso n...

Imagine um cenário onde os dejetos de animais não são mais um problema, mas sim a solução para uma revolução energética nas propriedades rurais. Isso não é o futuro, isso é uma realidade para muitos produtores rurais que investem em biogás, uma tecnologia que está transformando a agricultura de maneira sustentável e eficiente. Esta fonte de energia renovável, obtida a partir da decomposição de resíduos orgânicos, já é a realidade de muitas propriedades rurais. Uma solução sustentável para o tratamento de dejetos e geração de energia limpa. Nos últimos anos, o Paraná tem observado um aumento significativo no número de propriedades rurais que adotaram sistemas de produção de biogás. Segundo dados do Deral-PR (Departamento de Economia Rural do Paraná), o estado é responsável por aproximadamente 21% da produção nacional de biogás, com destaque para as regiões Oeste, Sudoeste, Sudeste e Central. O que é biogás, afinal? O biogás é o resultado da decomposição de materiais orgânicos em um ambiente sem a presença de oxigênio, um processo conhecido como “digestão anaeróbica”. Em outras palavras, quando resíduos como esterco animal, restos de culturas, alimentos descartados ou até lodo de esgoto são confinados em locais fechados e decompostos por microorganismos, eles geram um gás composto principalmente de metano (CH₄) e dióxido de carbono (CO₂). Esse processo ocorre naturalmente, mas, em biodigestores, um tipo de reator fechado projetado para esse fim, o processo é acelerado e otimizado para maximizar a produção de gás. O metano presente no biogás é o componente que o torna uma fonte valiosa de energia. Similar ao gás natural, o metano pode ser usado para gerar calor, eletricidade ou até como combustível para veículos, dependendo do grau de purificação ao qual o biogás é submetido. A Itaipu Binacional já possui frotas de carros que são movidos 100% por biocombustíveis, obtidos a partir do esterco de aves. O biocombustível é cerca de 30% mais barato que o biodiesel e, em relação ao preço por quilometragem, o custo do biometano é 56% menor em comparação a um veículo similar a diesel, tornando-se viável para qualquer centro urbano do país. Aplicabilidade em propriedades rurais Rafael Rick Niklevicz é especialista no ramo. Participou de projetos pela CIBiogás (Centro Internacional de Energias Renováveis) e, hoje, trabalha em uma empresa especializada em implementação de biodigestores. Ele explica o que é necessário para a aplicação de biodigestores em áreas agrícolas. Segundo Rafael, o produtor deve se atentar aos seguintes aspectos: Área da propriedade: “Em alguns lugares, a área possui um tamanho reduzido, então o projeto não se viabiliza”, disse. Segundo ele, não é viável o desenvolvimento de um projeto em uma propriedade com menos de 300 cabeças de gado. Investimento: Os valores para a implementação de um projeto variam de acordo com tamanho da propriedade, tipo de animal, marca e tipo do biodigestor, entre outros. Porém, no Paraná, existem alguns incentivos que o Governo do Estado disponibiliza para facilitar a implementação de projetos em propriedades rurais. Um deles é o “RenovaPR”, que custeia cerca de 50% dos juros em financiamentos de projetos que custam até 2 milhões de reais. Mentalidade inovadora: O biogás é uma tecnologia que traz uma série de atividades novas, logo, é preciso ter interesse em investir em novas tecnologias. “Sem essa percepção de entender que o biogás pode ser benéfico para a propriedade, há uma barreira que impede uma negociação de evoluir”, opinou. Ainda segundo Rafael, a iniciativa normalmente parte dos filhos dos produtores. “Onde tem Biogás, é muito mais fácil você reter o jovem na propriedade, por envolver a tecnologia no dia a dia do produtor", concluiu. Projeto de biodigestores implantados em uma propriedade rural. Divulgação/Master Biodigestores. O que ganho com a produção de biogás? A produção de energia através do biogás não se limita apenas à preservação do meio ambiente. A energia gerada alimenta a propriedade rural, tornando-a autossuficiente. Além disso, o restante da energia gerada poderá ser vendida. Esse é o caso da família Baratto, de Medianeira, no Oeste do Paraná. Desde que começaram a produzir biogás em sua fazenda, utilizando os resíduos da suinocultura, eles conseguiram eliminar a conta de energia elétrica e ainda obtêm lucro com a venda do excedente. Após três meses de operação do sistema na propriedade da família, a produção de biogás gera aproximadamente 25 mil quilowatts por mês, sendo que 2 mil quilowatts são usados para cobrir o consumo da fazenda, e o restante é vendido. Com isso, a família economiza entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil, que antes eram gastos na conta de luz, além de faturar cerca de R$ 12 mil mensais com a comercialização da energia. Até o resíduo do processo tem aplicação. O resultado da produção por biodigestores é um ótimo adubo. “O biofertilizante é o substrato daquilo que foi digerido pelas bactérias no biodigestor. O metabolismo dessas bactérias resulta em um material com uma carga orgânica diminuída e com nutrientes”, conta Rafael. O produtor poderá utilizar este biofertilizante como complemento ou até mesmo como adubação principal na cultura agrícola, o que reduz custos. Futuro do biogás no Brasil De acordo com a Associação Brasileira de Biogás (Abiogás), o Brasil possui um grande potencial para expandir sua produção de biogás, graças à abundância de matéria orgânica disponível no País. Um estudo da consultoria McKinsey estima que o mercado de biogás e biometano no Brasil pode atingir R$ 40 bilhões até 2030, o que poderia suprir entre 25% e 30% da demanda nacional por gás natural. Esse crescimento é impulsionado por diversos fatores, como a busca por fontes de energia mais limpas e renováveis e os avanços tecnológicos que tornam o setor cada vez mais competitivo. Texto produzido por Filipe Vazquez, acadêmico do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, sob orientação da professora Julliane Brita, para a 23ª edição da Revista Verbo, veiculada na 4ª edição do City Farm FAG, em 2024.